sábado, 23 de abril de 2011

Parte da dificuldade em escrever acerca do Portugal na Vertical - BRM 600 kms deriva do facto de em 600 kms passarmos por estados físicos e emocionais muito contraditórios.

A grande questão é o porquê? Afinal porquê e para quê andar 600 kms de bicicleta?

No meu caso é para chegar. Para ter feito, há quem vá pela viagem, para se testar, pelas sensações (umas boas outras más). Eu vou para chegar.

Foi 3ª vez que fiz o Portugal na Vertical (2008,2009 e agora em 2010). De todos guardo sensações semelhantes mas aprendizagens diferentes e complementares. O mais emocionalmente em 2008, o mais difícil em 2009 e o mais gerido em 2010.

Um evento de longa distância é difícil de explicar e de racionalizar sendo que eu procuro sempre encontrar explicações para as sensações que vou tendo ao longo das quase 28 horas que pedalei.
Esta racionalização permite-me por um lado manter o controlo das más emoções por que passo e por outro lado aprender e estabelecer relações de causa efeito que mais tarde me serão úteis em situações semelhantes.
 A resistência física e mental são relevantes mas perceber como funcionamos permite gerir o percurso. Este ano com a companhia do Albano foi importante já ter feito por 2 vezes o percurso o que ajudou a antecipar problemas e estados de espírito. Quase como se já soubesse como me iria sentir após 300, 400, ou 600 kms. Isto é uma mais valia.
 
O físico acaba sempre por nos pregar partidas inesperadas, isso já aprendi por mais preparação que faça. A cabeça prega-nos muitas partidas e o corpo dá-nos muitos sinais. A gestão deste trinómio garante o sucesso. Ignorar algum deles e fica tudo muito complicado.

Muitas vezes leio que as longas distâncias se fazem com a cabeça, eu não concordo em absoluto, pois também é verdade que “..if you do not have the legs motivation won't drive you far...”. Eu acho que o conhecimento e mais tarde a sua conjugação com a experiencia é que fazem a diferença. 
 
Mas conhecimento do quê? De como fazer um bike fit para longa distância. De ser capaz de na estrada desmontar, montar e afinar qualquer peça da bike. De saber os impactos das “dores” de pedalar tantas horas e como as minimizar. De saber o que comer e como. De perceber como o corpo reage ao calor e ao frio e como o compensar em situações extremas. Como ajudar quem vai connosco. De perceber qual as melhores cadências para as nossas articulações e músculos. Quais os limites de potencia que conseguimos produzir em tantas horas a pedalar, de como reagir perante uma hipoglicemia, perceber o drift cardiaco ao longo das horas. ….etc, etc, etc. 
Eu acredito que o senso comum não é bom conselheiro e é bom ter alguma noção do mal que faz ao corpo este tipo de aventuras. Aprende-se muito a pedalar mas muito também a ler acerca destas coisas…
 A gestão do tempo é fundamental, de nada vale ir rápido e depois estar 1 hora parado. Uns dos segredos de se conseguir fazer longa distância é a gestão das paragens. Estabelecer um plano de paragens de acordo com o perfil do percurso e manter-se fiel ao plano. O erro de tentar a andar recuperar o tempo perdido parado pode sair muito caro!

... e por fim a questão da alimentação, de tudo o que já experimentei eu apenas me dou bem com comida normal e poucos alimentos para "desportistas". 
No capitulo da alimentação existe uma regra de ouro que nunca quebro - não ingerir qualquer tipo de alimento inibidor do cansaço, nomeadamente estimulantes.(cafeína, taurina, seja em barras, gels ou outros). Existe uma forte razão para isto, nas longas distâncias o corpo passa por estados sérios de provação e vai dando sinais ao longo do percurso. Ao tomar este tipo de estimulantes estamos a dar saltos para a frente com os quais seremos confrontados, ao contrário de passeios pequenos em que passadas umas horas estamos em casa, aqui continuamos a pedalar e o efeito de sermos confrontados repentinamente com o cansaço acumulado que foi mascarado é algo que não deve ser simpático.

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Acerca de mim

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Pedalando por aí... de preferência em estradas sem buracos... de preferência... sozinho... ou bem acompanhado. 2008 = Portugal na Vertical - Viana do Castelo Sagres Non Stop foi a 27 de Julho. Em 2009 lá fui eu outra vez... Portugal na Vertical 2ª edição. Em 2010 não há 2 sem 3 lá se fez o Portugal na Vertical + os Brevets do ACP rumo ao PBP 2011 Em 2011 = Randonneurs Portugal e o PBP 2011 em Agosto. 2012- We will see...